Cabelo Crespo e o Mundo Corporativo

Gabriela Rocha
3 min readSep 29, 2020

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Dizem por aí que imagem é tudo, que a aparência é primordial em uma entrevista de emprego. Mas de que aparência estamos falando? Que aparência os contratantes estão querendo de seus candidatos?

Lembro que já vi anúncios de emprego requerendo do candidato, ou normalmente da candidata “boa aparência”. Não seja esse tipo contratante e vou te explicar a razão.

Como muito já foi dito, as mulheres negras são as que têm a maior taxa de desemprego no Brasil. E quando se trata de mulheres com cabelo crespo, essa estatística piora abusurdamente, já que essas mulheres são consideradas descuidadas, preguiçosas por não terem um estereótipo mais próximo do caucasiano.

Agora você me diz, como a origem africana de uma pessoa, que é expressada diretamente em suas características físicas, pode influenciar em sua competência? Como não encontro nenhuma resposta razoável para esta pergunta, só posso concluir que esse tipo de seleção, ou melhor exclusão é racismo!

Eu mesma frequentei escolas brancas, onde os negros que lá existiam podiam ser contados em uma mão. E lembro do esforço que minha mãe fazia para que o meu cabelo ficasse “bom”. A propósito, porque meu cabelo é considerado “ruim”, ele fez alguma coisa pra você? Bem, voltando ao meu exemplo, desde criança (tipo 8 anos) a minha mãe sempre procurava o produto ou o salão de beleza que deixasse o meu cabelo “assentado”. A culpa não é da minha mãe! A culpa é da opressão que ela viveu, que as minhas avós viveram, onde o negro foi pressionado a se parecer com o branco, para ser aceito na sociedade, para conseguir emprego, para conseguir cargos maiores e esse fato foi normalizado.

Aí eu pergunto aos contratantes, você passaria química no cabelo da sua filha de 8 anos? Você acha razoável? Acredito que não. Então porque você exige que a menina que você vai contratar tenha o cabelo parecido com o seu, da sua filha, ou da sua mulher? Tem um filme muito bom, que é super didático e fala da indústria de cabelos para mulheres negras nos EUA chamado: Good Hair, dirigido pelo ator Chris Rock. Sim é nos EUA, mas pode se aplicar ao Brasil também. E pasmem, quem é que ganha mais dinheiro com essa indústria para tornar o cabelo da mulher preta aceitável? Os brancos, claro!

E aqui eu não falo somente daquele afro enorme que está na moda e que a branquitude ama usar no carnaval (NÃO FAÇAM ISSO!). Além de existirem diveros tipos de cabelo afro, há também diversos estilos tais como: tranças, dreads…

Eu mesma desisti de tentar fazer meu cabelo parecer com o de um caucasiano somente aos 32 anos. Imaginem, 32 anos para enfim assumir o meu próprio cabelo, que eu nasci com ele, que é a minha origem! Pode acreditar, eu já tentei de tudo para ser bem aceita, já gastei muito dinheiro e já até fiquei com o couro cabeludo queimado e ardendo pra simplesmente ser aceita ou para ficar apresentável em uma entrevista! E é esse tipo de crueldade e opressão que nós mulheres pretas sofremos em nossa sociedade.

Por fim, uma das soluções sugeridas para que não haja nenhum tipo de preconceito numa entrevista de emprego por exemplo, é a seleção às cegas, conforme um estudo realizado pela Universidade de Duke, nos Estados Unidos e que você pode ler mais sobre neste artigo do site Notícia Preta. Porém, vale ressaltar, que esse tipo de contratação não exclui o fato que ainda assim o racismo precisa discutido no ambiente corporativo.

Até a próxima!

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Gabriela Rocha
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Written by Gabriela Rocha

Gabriela Rocha é preta, tributarista e autora do livro Gabyanna Negra e Gorda.

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